UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL
(PROJETO DE PESQUISA)
“Efeitos da recirculação do líquido percolado sobre a qualidade do efluente de células de lixo doméstico de diferentes idades”
Projeto aprovado em: 28/03/2003
Equipe Técnica:
LÍDER:
Prof. Antônio Teixeira de Matos, D.S. - Prof. Adjunto UFV
CO-LÍDERES :
Prof. Roberto Francisco de Azevedo - Ph.D - Prof. Adjunto UFV
Profa. Izabel C. D’Almeida D. de Azevedo – D.S – Prof. Adjunto UFV
Prof. Cláudio Pereira Jordão – Ph.D – Prof. Titular UFV
André Luciano de Carvalho - Doutorando - UFV
Viçosa – MG
Março 2003
1. INTRODUÇÃO
A disposição de resíduos sólidos urbanos e industriais no solo tem sido feita há séculos. No passado, acreditava-se que o potencial poluente do percolado gerado em aterros era completamente atenuado pelo solo, por isso, a contaminação do aqüífero não representava uma preocupação. Por essa razão, considerava-se que a disposição de resíduos diretamente no solo fosse uma prática considerada aceitável.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 2/3 da população mundial não possui meios adequados para a disposição de resíduos, situação que contribui para a formação de um círculo vicioso de doenças e pobreza (MERBACH JR., 1989).
Segundo LIMA (1995) a problemática do lixo no meio urbano abrange aspectos relacionados à sua origem e forma de produção, destacando-se os riscos do comprometimento ambiental, principalmente a poluição do solo, do ar e dos recursos hídricos, quando de sua disposição inadequada. O não tratamento dessa massa pode contribuir significativamente para a degradação da biosfera, em detrimento da qualidade de vida em nosso planeta.
A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico realizada no ano de 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2002), revelou que, dos 5.507 municípios brasileiros, 63,6% utilizam lixões como destino final do lixo, enquanto 18,4% utilizam aterros controlados e 13,8% aterros sanitários. Em Minas Gerais, por exemplo, apenas 7 municípios possuem aterro sanitário licenciado pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM, 2002): Belo Horizonte, Betim, Contagem, Extrema, Ipatinga, Paracatu e Uberlândia. Porém, tomando-se por base a massa produzida, das 125.281 toneladas de lixo diariamente coletadas no Brasil, 47,1% eram destinados a aterros sanitários, 22,3% a aterros controlados e 30,5% a lixões.
A destinação final de lixo em aterros sanitários e o emprego de usinas de compostagem/reciclagem são consideradas técnica e ambientalmente mais adequadas, com isso, muitos esforços têm sido empreendidos e muitos recursos alocados para que se possa dar tratamento adequado ao lixo gerado nas cidades.
O aterramento, por si só, não resolve o problema do lixo, uma vez que parte dos resíduos aterrados dão origem a um líquido de coloração escura, altamente poluidor, formado a partir de enzimas expelidas por bactérias de decomposição e de água de constituição, denominado chorume (ORTH, 198l). O chorume é um dos maiores limitantes para a disposição de resíduos orgânicos sobre o solo, uma vez que sua migração, desde a superfície do terreno até o lençol freático, pode transportar uma série de compostos químicos e agentes biológicos e, conseqüentemente, poluir os mananciais de águas superficiais ou subterrâneas.
A quantidade de percolado (chorume mais água de infiltração) gerada em aterros é dependente da pluviosidade local, do escoamento superficial, da possível intrusão de águas subterrâneas nas células e do volume de resíduos orgânicos presentes no aterro.
Em vista do exposto, no projeto de um aterro sanitário, deve estar, necessariamente, contemplada a instalação de rede de drenagem para o percolado e para os gases gerados nas células. O percolado coletado deve ser tratado para que possa ser lançado em corpo receptor e os gases queimados ou aproveitados como fonte de energia para minimizar a contaminação atmosférica.
O tratamento do percolado representa, ainda, um grande desafio na elaboração dos projetos de aterros sanitários, uma vez que suas características são alteradas em função da quantidade de água incorporada ao chorume, das características dos resíduos dispostos no aterro e, principalmente, da idade do aterro (FERREIRA et al., 2001). Além disso, a grande exigência de área, muitas vezes pouco disponível em áreas próximas a grandes centros urbanos, e a relativa baixa eficiência do sistema convencional de tratamento (lagoas anaeróbias seguidas de facultativa), têm levado técnicos e pesquisadores a procurarem alternativas técnicas que possibilitem o tratamento/disposição final com menor custo econômico e ambiental.
Segundo a CETESB (1995) um método tecnicamente viável para o condicionamento de percolado é a adoção de um sistema que permita a sua recirculação no próprio aterro sanitário. Segundo o IPT/CEMPRE (2000), a recirculação do percolado para o interior do aterro sanitário, de maneira que ele possa percolar através da massa de sólidos disposta em camadas, é uma técnica atual e bastante inovadora no tratamento desse líquido poluidor.
Segundo COSTA (2002) a recirculação do percolado pode possibilitar o prolongamento da vida útil dos aterros sanitários, tornar desnecessária a construção de uma unidade de tratamento para o percolado e viabilizar exploração do gás metano, uma vez que mais rápida poderá ser a conversão de ácidos orgânicos do chorume em CH4 e CO2. Pohland e colaboradores, 1984, citados pela CETESB (1995) afirmaram que o tratamento de percolados mediante a utilização da técnica de recirculação através do aterro sanitário pode ser adotado para se obter rápido declínio do potencial poluidor do percolado produzido, bem como acelerar a estabilização do lixo aterrado e reduzir o volume de percolado gerado por meio de evaporação durante o processo de recirculação na área do aterro sanitário. FERREIRA et al. (2001) comentaram que em países localizados em regiões de clima tropical, como é o caso do Brasil, a recirculação diminui, significativamente, o volume de percolado, já que a evaporação pode ser favorecida pelas condições ambientais (temperatura ambiente, ventos, radiação solar, etc.). Além disso, a recirculação permite maior flexibilidade no gerenciamento das variações da quantidade de percolado produzido. QASIM & CHIANG (1994) destacaram as seguintes vantagens da utilização da recirculação do percolado:
• aceleração da estabilização do aterro sanitário;
• redução assegurada dos compostos orgânicos presentes no percolado;
• possível diminuição de volume de percolado devido à evaporação;
• redução dos custos envolvidos no tratamento do percolado.
A redução dos componentes orgânicos e inorgânicos presentes no percolado se dá em razão da ocorrência de processos de adsorção, precipitação e quelação/complexação quando em contato do líquido com o material aterrado. A atenuação da carga poluente do chorume pode ser comprovada pela diminuição das concentrações de DBO, DQO e COT, ácidos voláteis, fosfatos, nitrogênio amoniacal e sólidos totais dissolvidos, embora apresente baixa eficiência na remoção de nitrogênio e fósforo, geralmente encontrados em altas concentrações remanescentes no líquido recirculado (IPT/CEMPRE, 2000). Em trabalho realizado por Allem, 1987, citado pela CETESB (1995), foi mencionada uma redução de cerca de 40% no conteúdo de matéria orgânica no percolado, após a recirculação ter sido iniciada, e, além disso, as concentrações de amônia, de metais e de sólidos suspensos apresentaram alguma redução. O processo de recirculação do percolado na massa de lixo acarretou, também, redução drástica na DBO da ordem de 5.000 mg L-1 para 500 mg L-1, o que facilitou o tratamento do líquido resultante (ABLP, 2000).
A recirculação do percolado pode, também, facilitar e manter condições inerentes à fase metanogênica dentro do aterro em razão do aumento do conteúdo de água e da manutenção de condições anaeróbias no resíduo disposto, embora haja alguma controvérsia nos resultados apresentados na literatura. Pohland, 1979, citado por LIMA (1988), em células de aterro experimentais, preenchidas com resíduos sólidos domésticos triturados e monitoradas durante 3 anos, concluiu que a recirculação de chorume cru (denominada por alguns autores como recirculação direta), ou seja, de chorume que não sofreu nenhum tratamento ou inoculação, é um forte mecanismo na aceleração do processo de degradação de resíduos, em particular da metanogênese. COSTA (2002) avaliando a influência da recirculação do chorume na digestão anaeróbia de resíduos sólidos urbanos e comparando os resultados desta aplicação em relação ao sistema convencional de degradação dos resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários, concluiu que os resultados dos parâmetros físico-químicos do chorume e do biogás indicaram uma influência positiva da recirculação de chorume no processo de digestão anaeróbia. Por sua vez, LIMA (1984) observou que a recirculação direta de chorume cru causou inibição no processo de degradação, em particular na metanogênese, já que o excesso de ácidos provocou o desbalanceamento entre as taxas de produção e consumo pelos grupos bacterianos. TEIXEIRA (1993) estudando em lisímetros de 200 litros, concluiu que a recirculação de chorume cru efetivamente inibiu o processo de degradação, provavelmente por efeitos de sinergismo. Também recomendou que, quando da intenção de acelerar o processo de degradação pela recirculação de chorume, este passe primeiro por um pré-tratamento anaeróbio em reator próprio. Em vista disso, pode-se constatar que há uma controvérsia muito grande entre os autores, no que diz respeito aos efeitos no processo de degradação da massa orgânica quando há a recirculação de líquidos percolados.
A recirculação do percolado, que pode ser aspergido em áreas ativas, ou infiltrado no interior de áreas encerradas do aterro sanitário, vem sendo aplicada em diversos países (Austrália, Estados Unidos e alguns países desenvolvidos da Europa), onde é considerada uma opção muito interessante para a manutenção de umidade ótima no interior de aterros situados em zonas de baixo índice pluviométrico (PALMA et al., 2000). No Brasil, no entanto, apesar das evidências obtidas em diversos trabalhos científicos, existe um ceticismo muito grande em relação à técnica, principalmente por parte dos órgãos de fiscalização ambientais, que em virtude de alguns fracassos observados no uso inadequado da técnica, não têm aprovado o emprego da recirculação do percolado em aterros sanitários.
Segundo MARIANO (1999) a digestão anaeróbia pode ser observada em faixa de variação de 0 a 65oC, sendo o desenvolvimento de microrganismos e a conseqüente produção de gases, função da temperatura. Considerando-se que à medida que o material orgânico vai sendo degradado há um aumento substancial na concentração de ácidos fúlvicos, húmicos e humina, com conseqüente aumento da capacidade de troca catiônica e capacidade de quelação/complexação do material, espera-se grande aumento na capacidade de retenção de poluentes pelo lixo enterrado. Esse efeito pode ser comprovado pelas baixas cargas poluidoras de percolados coletados em aterros antigos (CETESB, 1995).
SOUZA (1998) encontrou menores concentrações de metais pesados em amostras de solo coletadas abaixo das células-base do Aterro Sanitário de Belo Horizonte onde o lixo foi depositado sobre uma camada de entulho de construção civil do que nas amostras de solo coletadas em áreas que não receberam este entulho. O autor atribuiu a menor presença de metais pesados na amostra retirada abaixo da camada de entulho, ao fato desta camada de entulho ser rica em material carbonático e, portanto, de pH elevado (alcalino) tendo, por isso, se transformado numa “barreira” química. Nessas condições, há maior precipitação dos metais pesados contidos no percolado nessa camada.
Apesar das evidências, pouca informação encontra-se disponível na literatura a respeito da influência da idade do lixo na qualidade do efluente recirculado nas células, o que pode ser uma informação fundamental na escolha do local adequado no aterro sanitário para a disposição do percolado, possivelmente um fator decisivo para o sucesso ou fracasso no emprego da técnica da recirculação do percolado.
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral
Este trabalho tem por objetivo avaliar, em lisímetros, a influência da idade do lixo na qualidade física e química do efluente de sistema de recirculação do percolado de lixo jovem (idade menor que 1 ano).
2.2. Objetivos específicos
- Caracterizar a composição gravimétrica do lixo aterrado por diferentes períodos utilizado no preenchimento dos lisímetros;
- Avaliar a qualidade do efluente dos lisímetros contendo resíduos urbanos de diferentes idades, submetidas à recirculação de líquido percolado;
- Avaliar a influência da camada de entulho na qualidade do percolado;
- Monitorar as condições de degradação anaeróbia do material orgânico em função da adição regular de percolado.
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Aparato experimental
A pesquisa será desenvolvida na Área Experimental de Hidráulica, Irrigação e Drenagem do Departamento de Engenharia Agrícola e Ambiental da UFV. Para o desenvolvimento das atividades de pesquisa serão construídos seis lisímetros, para representar células de um aterro sanitário.
Os lisímetros serão montados em recipientes de concreto (manilhas) de 2,00 m de altura e diâmetro interno de 1,00 m, perfazendo um volume de aproximadamente 1570 L. Os lisímetros serão dotados de um sistema de drenagem no fundo para coleta do percolado, recipiente de coleta de percolado, sistema de recirculação do percolado, dispositivo para medição e retirada de amostras de gases, dispositivo para tomada e medição da temperatura da massa de resíduos (Figura 1).
A camada de drenagem será composta de 5 cm de brita zero, no fundo do lisímetro. A brita deve estar limpa e possuir tamanho mínimo de partículas entre 3 a 5 mm. Sobre a brita deverá ser assentado um tubo de PVC de 2,5 cm de diâmetro e em seguida preenchido à profundidade de mais 5 cm, com o mesmo material, minimizando assim, o carreamento de sólidos grosseiros junto com o percolado (Figura 1.a).
O dispositivo de coleta do líquido percolado será basicamente composto por um tubo de PVC de 2,5 cm de diâmetro, um registro de gaveta de 2,5 cm, 80 cm de mangueira cristal de 2,5 cm de diâmetro e uma rolha de borracha. A mangueira cristal deverá formar um sifão com selo hidráulico, durante a abertura do registro, permitindo assim, a coleta do líquido sem a entrada de ar no lisímetro (Figura 1.b).
O dispositivo de controle da altura de líquidos será constituído por uma mangueira cristal com 8 mm de diâmetro que sai do fundo do lisímetro e paralela a este (Figura 1.c).
O dispositivo de inoculação e introdução do líquido percolado será composto de um tubo de PVC branco, perfurado e instalado na vertical. Na parte do tubo externa ao lisímetro, será conectados um registro de gaveta e uma rolha de borracha para impedir a entrada de água de chuva. Na saída deste tubo, será colocado um funil, por onde será adicionado o líquido efluente que se distribuirá sobre a superfície do lixo, no interior dos lisímetros. Na superfície do resíduo enterrado (no contato da camada de solo com a do lixo), será colocada uma camada de areia, objetivando-se uma melhor distribuição do fluxo sobre a massa de lixo. (Figura 1.d).
Figura 1 – Esquema dos lisímetros experimentais de resíduos sólidos urbanos.
A geração (volume produzido) e a migração dos gases será feita através de um dreno vertical que consistirá de um tubo de PVC de 40 mm de diâmetro envolvido com uma membrana geotêxtil, previamente instalado verticalmente no interior da massa de lixo durante o preenchimento dos lisímetros (Figura 1.e).
A medição de temperatura da massa de resíduos sólidos urbanos contidos nos lisímetros será feita com uso de medidores de temperatura da massa sólida (termopares) instalados em diferentes profundidades no lisímetro (Figura 1.f).
3.2. Preenchimento dos lisímetros
Inicialmente, discutiu-se o tipo de resíduo a ser utilizado no preenchimento dos lisímetros e optou-se pelo uso dos resíduos sólidos urbanos provenientes do Aterro Sanitário de Visconde do Rio Branco (MG), composto de três idades diferentes, denominados neste trabalho como:
- lixo fresco: recém coletado ou de idade até 3 meses, denominado jovem;
- lixo maduro: lixo aterrado por 10 a 12 meses;
- lixo velho: lixo aterrado por mais de 3 anos.
Os seis lisímetros serão preenchidos com o lixo acima discriminados, porém, em três lisímetros será acondicionada uma camada de 30 cm de entulho de construção civil sobre a camada de drenagem, para avaliação de sua influência na qualidade do efluente dos lisímetros (Figura 1.g).
A composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos será determinada previamente.
O lançamento e compactação do lixo serão feitos manualmente, com o auxílio de hastes de madeira, de forma a representar as condições reais, compatíveis com as de uma cidade de pequeno porte, devendo-se atingir um peso específico médio de 7 kN.m-3 com espessura final de 1,50 m de lixo.
Ao final, sobre o lixo, será feita uma cobertura de 30 cm composta de uma argila compactada, que servirá de “selo” juntamente com uma camada de grama, encerrando-se a execução do mesmo (Figura 1.h).
3.3. Caracterização física dos resíduos sólidos urbanos
Com o lixo retirado do lixão de Visconde do Rio Branco, será feita uma separação para caracterização dos materiais constituintes, determinando-se a sua composição gravimétrica de acordo com as categorias presentes na Tabela 1, apresentada por LIBÂNIO (2002).
Tabela 1 – Composição gravimétrica dos resíduos de acordo com a categoria dos seus constituintes
Tipo de material Grupo Categoria Exemplos
Identificável I
ou inertes
ou pouco biodegradáveis Vidro Embalagens, espelhos
Metal ferroso Latas, arames, lâminas
Metal não ferroso Embalagens de alumino, fios de cobre
Plástico fino Sacos, rótulos
Plástico duro Tampas, embalagens
PET Garrafas de refrigerante
Entulho Tijolos, blocos, pedras
Outros(1) Material de higiene pessoal (fraldas descartáveis, absorventes), palhas de aço, borrachas, preservativos, isopor, espumas
II
ou
lentamente
biodegradáveis Papel reciclável Papel de escritório, jornais, revistas
Papel não reciclável Embalagens de alimento, papel higiênico
Papelão Embalagens
Tetra Pak Embalagens de suco e leite
Tecido Roupas e trapos
Couro Bolsas, sapatos, cintos
Madeira Peças de madeira, pedaços de mobília
III ou
altamente
biodegradáveis Matéria orgânica
putrescível Restos de alimentos, frutas, animais mortos, fezes
Podas Folhas, galhos
Ossos Ossos de animais
Dificilmente
identificável Material particulado de difícil identificação Material orgânico e inerte miúdo, todos intimamente misturados
Excluído(2) Material retirado da amostra de resíduos Pneus, pilhas, baterias, remédios, seringas, gazes e esparadrapos
(1) Todo material que não se enquadra nas categorias existentes e que não apresenta relevante percentual em peso.
(2) Material cuja destinação a aterros sanitários acredita-se ser tecnicamente inadequada, perigosa em termos de saúde pública ou está impedida pela legislação ambiental, e que não foi computado na caracterização, sendo descartado ainda no lixão de Visconde do Rio Branco.
3.4. Recirculação do líquido percolado
O sistema de recirculação do percolado consistirá na introdução do líquido abaixo da camada de solo de cobertura. O líquido a ser recirculado será coletado em três lisímetros semelhantes aos que serão construídos para o presente trabalho, que já estão em operação, produzindo percolado de lixo novo numa pesquisa em desenvolvimento no Departamento de Engenharia Civil (Figura 2).
Figura 2– Lisímetro em operação no Departamento de Engenharia Civil.
O líquido coletado nos lisímetros não será submetido a qualquer pré-tratamento, caracterizando-se, desta forma, recirculação direta. O líquido drenado e a quantidade retirada, servirão de amostras para análises de acompanhamento. Em seguida, todo esse líquido será circulado nos lisímetros a serem desenvolvidos neste trabalho de acordo com o que foi apresentado anteriormente.
Objetiva-se fazer a recirculação a cada dois dias, ocorrendo a aplicação em um período de 8 horas.dia-1.
3.5. Produção de percolado
Diversos fatores contribuem para a quantidade e a qualidade do percolado. A pluviometria é um fator fundamental na quantidade de percolado a ser produzido no aterro.
A previsão da quantidade de percolado produzida é um parâmetro crítico no projeto de um aterro sanitário. De maneira geral, a altura de percolado que alcança a base dos resíduos (Lv) é fundamentada no balanço hídrico (KOERNER & DANIEL, 1998), calculado a partir da seguinte equação:
Lv = P – R – AS – ET (3.1)
Onde:
P = precipitação mensal;
R = altura perdida pelo escoamento superficial;
AS = altura de água absorvida pelos resíduos;
ET = altura perdida por evapotranspiração.
Na Figura 3 está representado o fluxo de água em um aterro sanitário.
Figura 3 – Esquema do fluxo de água em um aterro sanitário (CORRÊA SOBRINHO, 2000).
Mediante o exposto, será feita a avaliação da vazão a partir da equação (3.1) de balanço hídrico.
Os líquidos percolados serão recolhidos através da torneira de drenagem (Figura 2). O volume deste líquido será medido com proveta graduada e a sua temperatura anotada. A freqüência da amostragem dos líquidos será diária.
3.6. Amostragem dos gases
O monitoramento da produção de gases em aterros sanitários de resíduos sólidos tem como objetivo avaliar o processo de decomposição da matéria orgânica do lixo em conjunção com os demais parâmetros monitorados (temperatura e características físico-químicas do líquido percolado). A composição do gás em geral é CH4 (50% a 70%) e CO2 (30% a 50%).
O biogás produzido nos lisímetros será coletado semanalmente utilizando seringas de 20 mL. Após a amostragem, os gases serão conduzidos ao Laboratório do Departamento de Química para serem determinadas as concentrações de metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), em termos percentuais, utilizando um equipamento de cromatografia gasosa.
3.7. Determinação da temperatura da massa
Segundo a CETESB (1995) a temperatura não deve sofrer variações bruscas, mantendo-se entre 25 e 40 oC para as bactérias mesofílicas, ou entre 55 e 65 oC para as bactérias termofílicas. A velocidade do processo é maior na faixa termofílica, embora geralmente os gastos com aquecimento e as dificuldades de controle de processo sejam maiores.
A determinação da temperatura da massa em digestão do material contido no interior dos lisímetros será realizada mensalmente, feita com uso de medidores de temperatura (termopares).
3.8. Análise do efluente dos lisímetros
As análises do líquido percolado, quanto à sua caracterização, antes e após recirculação, serão feitas mensalmente para o acompanhamento do processo de degradação.
Os parâmetros físicos, químicos, bioquímicos e bacteriológicos do líquido percolado a serem analisados serão: DQO, DBO, pH, potencial redox, condutividade elétrica, sólidos (totais, fixos e voláteis), nitrogênio orgânico, nitrato, nitrogênio amoniacal, ortofosfato, metais (Al, Ca, Cd, Cr, Cu, Fe, Mg, Mn, Ni, Pb e Zn), coliformes totais e fecais, seguindo-se metodologia apresentada no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (AWWA/APHA/WEF, 1998).
3.9. Análise estatística
Os dados obtidos pelos parâmetros físicos, químicos, bioquímicos e bacteriológicos do líquido percolado serão analisados por meio de análise de regressão, considerando a variável independente o tempo.
Os modelos serão escolhidos baseados na significância dos coeficientes de regressão utilizando o teste de “t” adotando-se o nível de até 10% de probabilidade, no coeficiente de determinação e no fenômeno biológico.
Para interpretação dos dados, será utilizado o software estatístico SAEG – Sistema de Análises Estatísticas (versão 8.0/2001), desenvolvido na Universidade Federal de Viçosa.
4. LITERATURA CITADA
AWWA/APHA/WEF. Standard methods for the examination of water and wastewater. 20th edition. New York, 1998.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LIMPEZA PÚBLICA – ABLP. Curso básico sobre aterro sanitário. São Paulo, 26 a 29 de setembro de 2000.
COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL E LIMPEZA PÚBLICA – CETESB. Caracterização e estudo de tratabilidade de líquidos percolados de aterros sanitários. São Paulo, 1995. 66 p.
CORRÊA SOBRINHO, N.L. Análise do balanço hídrico em aterros sanitários. Viçosa: UFV, 2000. 123 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Viçosa, 2000.
COSTA, B.M.P. Estudo da influência da recirculação de chorume na digestão anaeróbia de resíduos sólidos urbanos. Dissertação de Mestrado – Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – Escola de Engenharia da UFMG. 147 p. Belo Horizonte, 2002.
FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE – FEAM. Página oficial da Fundação Estadual do Meio Ambiente (http://www.feam.br). Abril de 2002.
FERREIRA, J. A.; GIORDANO, G.; RITTER, E.; ROSSO, T.C.A.; CAMPOS, J.C.; LIMA, P.Z.M. Uma revisão das técnicas de tratamento de chorume e a realidade do Estado do Rio de Janeiro. In: Anais do XXI Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. João Pessoa, 2001.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000. Página oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (http://www.ibge.gov.br). Abril de 2002.
INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS – IPT; COMPROMISSO EMPRESARIAL PARA RECICLAGEM – CEMPRE. Lixo Municipal. Manual de Gerenciamento Integrado. 2ª edição. 370 p. São Paulo. 2000.
KOERNER, R.M; DANIEL, D.E. Final covers for solid waste landfills and abandoned dumps. Thomas Telford. Asce Press, 1998, 256 p.
LIBÂNIO, P.A.C. Avaliação da eficiência e aplicabilidade de um sistema integrado de tratamento de resíduos sólidos urbanos e de chorume. Dissertação de Mestrado – Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – Escola de Engenharia da UFMG. 156 p. Belo Horizonte, 2002.
LIMA, L.M.Q. Processos de metanização de resíduos orgânicos. Prefeitura Municipal de Campinas. Seminário sobre Resíduos Sólidos Urbanos. Campinas, 1984.
LIMA, L.M.Q. Estudo da influência da reciclagem de chorume na aceleração da metanogênese em aterro sanitário. Teses de Doutorado – Departamento de Hidráulica e Saneamento – Escola de Engenharia de São Carlos – USP, 1988.
LIMA, L.M.Q. Lixo – Tratamento e Biorremediação. 3a. edição, São Paulo, Editora Hemus, 1995. 265 p.
MARIANO, M.O.H. Recalques no Aterro de Resíduos Sólidos de Muribeca – PE. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Pernambuco, 1999. 108 p.
MERBACH JR., P.S. Estudo de Avaliação de Metais Pesados em Percolado de Aterro Sanitário em Função do Tempo de Deposição. Dissertação de mestrado, Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, SP., 1989. 83 p.
ORTH, M.H. de A. Aterros sanitários. Revista de Limpeza Pública. São Paulo. V 8, nº 20. P. 26-34, 1981.
PALMA, J.H.G.; VALENZUELA, P.I.T.; ESPINACE, R.H.A. Reducción de los tiempos de estabilización en rellenos sanitarios operados con recirculación de lixiviados tratados. In: Anais do XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. Porto Alegre. 2000.
QASIM, S.R.; CHIANG, W. Sanitary landfill leachate generation, control and treatment. Lancaster: Technomic. 1994.
SOUZA, H.A. Estudo da contaminação ambiental na área do aterro sanitário da BR-040, da prefeitura municipal de Belo Horizonte (MG). Ouro Preto: UFOP, 1998. 147 p. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Geologia da Escola de Minas, da Universidade Federal de Ouro Preto, 1998.
TEIXEIRA, E.N. Efeito inibidor da recirculação direta de chorume na decomposição aneróbia de resíduos sólidos. Dissertação de mestrado, Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, SP., 1993. 388 p.
5. CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS
ATIVIDADE MÊS DE EXECUÇÃO
Mar/03 Ab/
03 Mai/03 Jun/
03 Jul/
03 Ag/
03 Set/
03 Out/
03 Nov/03 Dez/03 Jan/
04 Fev
/04 Mar/04 Abr/
04 Mai/04 Jun/
04 Jul/
04 Ago/04 Set/04 Out/
04 Nov/04 Dez/ 04 Jan/
05 Fev/
05
- instalação das células x x x x
- acondicionamento do lixo de diferentes idades nas células x x
- recirculação do chorume x x x x x x x x x x x x x
- coleta e análise de amostras do efluente das células x x x x x x x x x x x x x
- coleta e análise de amostras de gases produzidos nas células x x x x x x x x x x x x x
- análise dos resultados x x x x x x x x x x x
- publicação dos resultados x x x x x x
- elaboração do relatório final x x
6. ORÇAMENTO ANUAL DETALHADO
6.1. Despesas de custeio
6.1.1. Remuneração de serviços pessoais
Valor (R$) 52.149,36
Membro da Equipe Horas/semana Valor/anual Valor total Fonte
Salário do líder e co-lideres 5 7.200,00 14.400,00 UFV
Salário de co-orientadores 2 2.400,00 4.800,00 UFV
Laboratorista 15 3.600,00 7.200,00 UFV
Salário do doutorando 40 12.874,68 25.749,36 CNPq
Sub-total 26.074,68 52.149,36
6.1.2. Material de consumo
Valor (R$) 14.498,60
Especificação Unid. Quant. Valor Fonte
Unitário Total
Pipeta de Pasteur c/ 100 unidades Cx. 5 32,00 160,00
Filtro Whatman nº 05 c/ 100 unidades Cx. 5 125,00 625,00
Frascos Vidro cor Âmbar cap. 250 mL Unid. 50 1,50 75,00
Caixa de isopor cap. 50 litros Unid 2 20,00 40,00
Manilha de concreto 1,00 m altura 1,00 m Unid 12 98,00 1176,00
Tubo de PVC rígido esgoto diâmetro de 80 mm c/ 6 m comp. Pç 15 25,00 375,00
Registros borboleta ¾” Pç 6 10,00 60,00
Pedra britada m3 5 30,00 150,00
Areia m3 6 20,00 120,00
Bomba centrífuga 2 cv Unid 1 400,00 400,00
Mangueira de polietileno de ¾” m 100 1,50 150,00
Tubo de cola para PVC 100g Unid 6 1,20 7,20
Fita teflon veda rosca 50 m Unid 2 2,70 5,40
Curva de 45 Unid 10 6,50 65,00
Tê Unid 10 2,00 20,00
Garrafas plásticas para soro Unid 300 1,00 300,00
Disquete de 3 1/2” Cx 5 10,00 50,00
Plásticos transparentes Unid 100 0,50 50,00
Frascos de polietileno 100 mL Unid 500 0,40 200,00
Papel ofício A4 (pacote c/ 500 fl) Unid. 5 9,00 45,00
Cartucho de tinta p/ impressora Pç 5 85,00 425,00
Vidrarias - - - 4.000,00
Reagentes - - - 6.000,00
Sub-total 14.498,60
6.1.3. Material permanente e equipamentos
Valor (R$) 7950,00
Especificação Quant. Valor Fonte
Bloco digestor com colorímetro para análise de DQO 1 2.800,00
Micro computador Intel Pentium III 1000 MHz memória 128 MB HD 20,0 GB Disk 1,44/CD room/DVD 8 MB de memória de vídeo, vídeo 17” Modem 56 K ou similar 1 4.700,00
Impressora colorida jato de tinta 1 450,00
Sub-total 7.950,00
6.1.4. Serviços de terceiros e encargos diversos
Valor (R$) 5.800,00
DESCRIÇÃO REMUNERAÇÃO FONTE
Cópias xerográficas 300,00
Transporte 1.000,00
Trator (h) 1300,00
Ajudante (homem-hora) 1500,00
Retroescavadeira (h) 1700,00
Sub-total 5800,00
6.1.5. Resumo de usos e fontes
Valor R$ 80.397,60
USOS FONTES VALOR
UFV CNPq
Pessoal 26400,00 25749,36 52149,36
Mat. de
Consumo 14.498,60 14.498,60
Mat. Permanente e Equipamento 7950,00 7950,00
Serviço de terceiros 5800,00 5800,00
TOTAL 26400,00 25749,36 28248,60 80397,96
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