O Complexo Agro-industrial da Avicultura de Corte
1. Introdução
A avicultura é um dos componentes mais importantes do agribusiness mundial e nacional. Como se sabe, agribusiness ou agronegócios envolve a produção agrícola propriamente dita, as atividades ligadas no suporte à produção, conhecidas como "backward linkages"(ligações para trás), e as relacionadas com o processo agroindustrial e de suporte ao fluxo de produtos até a mesa do consumidor final, conhecidas como "forward linkages" (ligações para a frente).
No suporte à produção vinculam-se com o setor agrícola as indústrias de fertilizantes, defensivos, máquinas e equipamentos agrícolas, financiamentos (crédito rural para investimento e custeio), pesquisa agropecuária e os transportes desses insumos. Na fase de distribuição e processamento vinculam-se os transportadores dos produtos agrícolas, o processamento, a avicultura, a suinocultura, os agentes financeiros que apóiam a comercialização, os armazenadores e o comércio (atacado e varejo), neste último encaixando-se inclusive o importante setor de alimentação comercial (restaurantes, lanchonetes, bares, etc).
O setor agrícola é visto como o centro dinâmico de um conjunto de atividades que presentemente representa mais de 40% do PIB ( cerca de US$ 321,2 bilhões) e é responsável pelo emprego de 52% da População Economicamente Ativa (PEA) do Brasil (mais de 36,4 milhões de pessoas).
O desenvolvimento da avicultura pode ser considerado como a síntese e o símbolo do crescimento e modernização do agronegócio no Brasil. Isso porque a atividade avícola reúne em sua estrutura funcional os três elementos mais importantes no cálculo econômico do capitalismo em sua configuração atual: tecnologia de ponta, eficiência na produção e diversificação no consumo.
2. O Desenvolvimento da Avicultura
A produção avícola em escala industrial, tal como existe hoje, iniciou-se praticamente na década de cinqüenta, com o surgimento de várias inovações tecnológicas na área biológica e sanitária. Antes, a criação de aves restringia-se à criação de fundo de quintal, com baixos índices de produtividade, basicamente para auto-consumo. Os pequenos excedentes eram vendidos abatidos ou vivos na feiras ou mercados centrais dos centros urbanos.
Com a superação de alguns impasses de natureza sanitária que impediam a criação em grandes aglomerações, é que a atividade começou a despertar o interesse de grandes empresas, que por seu turno, passaram a investir pesadamente em pesquisa biológica para reduzir o ciclo produtivo e a relação "input/output".
Nos últimos setenta anos, a idade de abate do frango caiu de mais de 100 dias para menos de 40 dias e o peso de abate aumentou de 1,5 kg para 2,4 kg (cerca de 60%). Esses avanços foram obtidos através dos avanços genéticos na obtenção de híbridos, na sanidade com o uso de vacinas, na nutrição com o aperfeiçoamento e redução do custos das rações e na criação de um meio-ambiente favorável ao crescimento das aves, por meio da instalação de equipamentos desenhados especificamente para atender as novas exigências da produção em larga escala.
Quadro 1: Evolução tecnológica da avicultura
Década
Natureza
Evento
1950-1960
Genética
Cruzamentos/Híbridos
1960-1970
Sanitária
Higiene/Profilaxia/Vacinas
1970-1980
Nutrição
Programação Linear
1980-1990
Manejo
Instalações e Equipamentos
1990-2000
Meio Ambiente
Controle e Climatização
2000-2010
Marketing
Qualidade/Diferenciação
Fonte: Schorr, Hélio, 1999.
A justificativa mais simplista para a expansão do mercado da carne de frango é a de que é o produto de origem animal que melhor responde aos desafios de alimentação do homem moderno (qualidade nutricional e resposta eficiente aos problemas do sedentarismo, estresse, etc.). Mas a contínua expansão da indústria do frango tem, sobretudo, razões técnicas e econômicas.
Do ponto de vista técnico-científico, por exemplo, o frango (comparativamente a suínos e bovinos) tem uma ciclo de vida incomparavelmente mais curto, fator que o torna muito mais apto ao desenvolvimento de experimentos. E isso tem proporcionado ganhos extraordinários ao setor, seja no ganho de peso, na redução do período de criação, no mais eficiente controle de doenças, na melhor conversão (em carne) do alimento consumido (tabela 1).
Com os ganhos técnicos ganha-se, também, economicamente. E o aumento na rapidez de resposta, aliado à alta conversibilidade de matérias-primas vegetais, se traduz numa produção proporcionalmente maior de carne em menor espaço de tempo e a custos cada vez mais acessíveis. Daí, obviamente, a opção maior da economia pela produção avícola.
Tabela 1: Evolução da conversão alimentar para o frango de corte
ANO
Peso do frango (g)
Conversão alimentar
Idade (dias)
1930
1.500
3,50
105
1940
1.550
3,00
98
1950
1.800
2,50
70
1960
1.600
2,25
56
1970
1.800
2,00
49
1980
1.700
2,00
49
1984
1.860
1,98
45
1989
1.940
1,96
45
2001
2.240
1,78
41
Nos últimos vinte anos a produção mundial de carnes praticamente duplicou, passando de aproximadamente 90 milhões de toneladas em 1978 para mais de 170 milhões de toneladas em 1998, graças ao desempenho da produção de carne de frango, em menor escala da carne suína, que é a mais consumida no mundo.
Na década de noventa, entre 1990 e 1998, a produção mundial de carnes cresceu 20,2%, e a carne de frango continuou apresentando o melhor desempenho com 45,4% de aumento, seguido da carne suína com 29,0%. Nesse período, a produção de carne bovina, apresentou uma tendência ligeiramente declinante, passando de 51,8 milhões de toneladas para 49,1 milhões de toneladas.
No Brasil, o desenvolvimento da avicultura acompanhou a expansão da produção de grãos, iniciado em larga escala a partir de meados da década de sessenta.
O grande crescimento da produção de grãos (principalmente da soja) foi a força motriz no processo de transformação do agribusiness brasileiro e, portanto, da avicultura. Entre 1965 e 1999, a produção de grãos passou de 25 milhões de toneladas para 83 milhões de toneladas, um crescimento de 232%. O melhor desempenho ficou por conta da soja cuja produção em 1965 era praticamente inexistente, em 1970 atingiu mais de 5 milhões de toneladas, em 1980 passou para 15 milhões e em 1999 para 31 milhões. A produção de milho evoluiu de 12 milhões de toneladas em 1965 para 32 milhões em 1999(166% de aumento).
O consumo percapita cresceu mais de 1000% passando de 2,3 kg em 1970 para 23,4kg em 1998. O consumo percapita das demais proteínas animais evoluiu mais lentamente. O de carne bovina passou de 12,1 kg para 29,6 (um incremento de 147%) e o de carne suína ficou praticamente estagnado, passando de 8,1kg para 9,1 kg.
Vale notar a alta taxa de crescimento do consumo percapita de carne de frango na década de noventa (mais de 74%), grande parte devido à estabilização da economia.
Além de ser a segunda proteína animal mais consumida no país, a carne de frango tornou-se um dos principais itens da balança comercial agrícola brasileira.
Apesar de a partir de meados da década de setenta, a produção de aves ter acompanhado a expansão da produção de grãos em outras regiões do país, a região sul continua sendo a maior produtora, respondendo ainda por mais de 50% da produção de carne de frango.
Entre 1990 e 1998 a produção brasileira passou de 2,36 milhões de toneladas para 4,50 milhões de toneladas (cerca de 90,7% de aumento).
A produção avícola industrial foi a primeira a aplicar em larga escala o sistema de integração vertical (a grande maioria via contratos), o qual garante a produção dentro de padrões tecnológicos e de qualidade bem definidos (por meio do manejo supervisionado e do controle no suprimento dos insumos) e a compra e distribuição do produto final. Essa se processa tanto através das grandes cadeias de supermercados como das pequenas lojas de conveniência, feiras e tradings voltadas para o comércio exterior.
Atualmente o Brasil é o terceiro maior produtor mundial, depois dos Estados Unidos e da União Européia (Tabela 5).
Tabela 5: Principais Produtores Mundiais de Carne de Frango
EM MILHARES DE TONELADAS
MAIORES PRODUTORES
1998
1999
2000
2001
2002(p)
2003(f)
ESTADOS UNIDOS
12.525
13.367
13.703
14.033
14.519
14.808
UNIÃO EUROPÉIA
6.789
6.614
6.654
6.822
6.750
6.760
BRASIL
4.498
5.526
5.980
6.567
7.040
7.180
CHINA
3.450
4.400
5.050
5.200
5.400
5.450
MÉXICO
1.587
1.784
1.936
2.067
2.188
2.297
JAPÃO
1.097
1.078
1.091
1.074
1.090
1.080
TAILÂNDIA
930
980
1.070
1.230
1.320
1.380
CANADÁ
798
847
877
927
945
975
ÍNDIA
710
820
1.080
1.250
1.400
1.500
MALÁSIA
660
684
786
813
832
846
OUTROS PAÍSES
6.523
6.631
6.866
6.905
6.940
6.059
PRODUÇÃO MUNDIAL
40.234
43.412
45.800
47.618
49.169
49.095
(p) preliminar / (f) previsãofonte: USDAElaboração: APA
Atualmente o complexo agro-industrial da avicultura é constituído basicamente de três tipos de empresas: as empresas líderes, como a SADIA e PERDIGÃO, as empresas emergentes e as pequenas empresas.
A tendência é que as empresas líderes deixem de atuar diretamente na produção de aves e passem atuar mais em marketing, no desenvolvimento de produtos (dentro do conceito de marca própria) e na criação de novas tecnologias que serão repassadas para empresas "satélites’.
3. O Mercado Internacional de Carne de Frango.
O mercado internacional de carne de frango mudou significativamente nas últimas décadas. As principais mudanças estão relacionadas com a adoção em grande escala de tecnologia, tanto no terreno biológico como no econômico. Sem embargo, pode-se dizer que em termos mundiais, dentro do setor primário, o setor avícola foi o setor que mais se destacou em termos de absorver com rapidez as novas tecnologias e os novos sistemas integrados de produção e de transferi-los com eficiência (na forma de preços baixos e de elevado padrão de qualidade) para os consumidores finais.
O reflexo disso foi o crescimento vertiginoso do consumo mundial de carne de frango, notadamente no países em desenvolvimento. Entre 1990 e 1998, o total consumido passou de pouco mais de 27 milhões de toneladas para 38,1 milhões, um acréscimo de 41,1%, ou seja mais de 11 milhões de toneladas (Tabela 6).
Tabela 6: Principais Consumidores Mundiais de Carne de frango
Consumo Interno
1998
1999
2000
USA
12.619
13.468
14.032
CHINA
11.149
11.810
12.160
EUROPA
6.752
6.706
6.807
BRASIL
3.969
4.291
4.735
TOTAL
52.491
54.974
57.111
Em mil toneladas – Carcaça Fonte USDA
Em resumo, pode-se dizer que em termos de estrutura de consumo os países consumidores de carne de frango podem ser divididos em dois grupos: o dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento. O crescimento do consumo percapita do primeiro grupo foi em grande parte devido ao efeito-preço, já que em função de vários fatores como eficiência, queda no custo dos insumos e a retirada de algumas restrições ao comércio, os preços desse produto apresentaram uma queda bastante expressiva com relação às décadas anteriores.
Tabela 7: Principais Exportadores de Carne de Frango
Mil Toneladas
PAÍSES
1995
1996
1997
1998
EUA
1.766
2.005
2.115
2.124
Brasil
424
568
649
612
França
547
551
531
543
China
288
312
405
375
H. Kong
435
544
557
580
Holanda
426
466
486
488
Tailândia
173
165
192
240
Outros
759
783
803
726
TOTAL
4.818
5.394
5.738
5.688
Fonte: USDA
O segundo maior exportador é o Brasil que vendeu para outros países 612 mil toneladas em 1998, cerca de 28,8% das exportações dos EUA e como foi visto, 10,7% das mundiais.
A França é o terceiro exportador mundial, com exportações bastante estáveis no período analisado, principalmente após 1994. Essa estabilidade pode ser um efeito das nova estrutura de apoio interno adotada pela União Européia a partir de 1993.
Entre os grandes exportadores mundiais, os maiores índices de crescimento são observados na China e Hong Kong. As exportações da China, cresceram 130,21% entre 1995 e 1998( passando de 288 mil toneladas para 375 mil toneladas) e as de Hong Kong 133,33%( passando de 435 mil toneladas para 580 mil toneladas). Por tratar-se de um entreposto que mantém um volume de transações comerciais muito grande com a China e o resto do Sudeste da Ásia, notadamente na área de alimentos, é claro que grande parte das exportações de Hong Kong são re-exportações, já que esta cidade foi a maior importadora mundial de carne de frango em 1998 (799 mil toneladas).
Na relação aos principais países importadores, Hong Kong por ser, como foi mencionado, um dos mais importantes entrepostos comerciais da Ásia, está em primeiro lugar com 799 mil toneladas. (Tabela 8).
O Japão em 1990 era o maior importador mundial de carne de frango com 291 mil toneladas, cerca de 18,8% das importações mundiais. Em 1998, as importações japonesas aumentaram para 495 mil toneladas (70% de aumento), mas o país caiu para quarto lugar, com a participação caindo para 8,7%. O aumento nas importações reflete uma queda na produção interna já que no decorrer da década o consumo doméstico manteve-se em torno de 1,6 milhões de toneladas.
O segundo maior importador mundial em 1998 foi a Rússia. Em 1997, esse país chegou a ser o maior importador do mundo, com mais de 1,1 milhões de toneladas. Talvez como reflexo da instabilidade no quadro macroeconômico entre os grandes importadores mundiais as da Rússia são as mais instáveis. Em 1992 por exemplo, ela importou apenas 45 mil toneladas, passando para 145 mil no ano seguinte e para mais de 1,1 milhões em 1997.
Tabela 8: Principais Importadores de Carne de Frango
Mil Toneladas (Fonte: USDA)
PAÍSES
1995
1996
1997
1998
Hong Kong
645
746
815
799
Rússia
800
983
1.105
762
China
590
610
740
715
Japão
536
547
496
495
Alemanha
326
350
343
340
A. Saudita
289
286
294
282
R. Unido
196
194
190
196
México
94
103
111
128
Outros
1.342
1.575
1.644
1.971
TOTAL
4.818
5.394
5.738
5.688
4. As Exportações Avícolas Brasileiras.
As exportações brasileiras de carne de frango em 1998 alcançaram cerca de US$738,9 milhões, e representaram 30,8% das exportações de carnes e 4,3% das exportações agrícolas (Tabela 9). Nesse ano foi o sétimo produto mais importante da pauta, depois do complexo soja, com US$ 4,7 bilhões, do café com US$ 2,6 bilhões, do açúcar com US$ 2,0bilhões, do suco de laranja com US$1,3 bilhões, da pasta de celulose com US$ 992 bilhões e do fumo com US$ 939,7 bilhões.
As exportações de carne de frango subiram 144,40% entre 1995 e 1998, passando de US$ 511,70 milhões para US$ 738,9 milhões. O recorde ocorreu em 1997, quando foram exportados US$ 875,8 milhões.
Historicamente, o principal comprador da carne de frango brasileira é a Arábia Saudita, que em 1998 importou 167 mil de toneladas, no valor de US$ US$ 171, 9 milhões de dólares.(Quadro XV).
O segundo maior importador é o Japão, cujas importações em 1998 totalizaram 73,3 mil toneladas ( no valor de US$ 125,5 milhões).
Tabela 9: Exportações Brasileiras de Carne de Frango (por destino)
Mil Toneladas Fonte: USDA
PAÍSES
1995
1996
1997
1998
A. Saudita
299,4
159,7
185,2
167,9
Japão
96,2
118,8
93,7
73,3
H. Kong
39
55,1
72,5
72,4
Argentina
19
27,6
45,5
61,9
E. Árabes
9,8
18,2
28,6
25,1
Singapura
9,9
21,1
20,6
20,9
Kuwait
17,9
25
28
20,1
Espanha
11,2
15,4
19,3
20,3
Rússia
-
14,1
33,3
16,1
Alemanha
9,4
22,2
20
16
Outros
-87,6
91,6
102,6
118,5
TOTAL
424,2
568,8
649,3
612,5
Tabela 10: Valor das Exportações Brasileiras de Carne de Frango (por tipo de carne)
US$ 1.000 (Fonte: USDA)
PAÍSES
1995
1996
1997
1998
Inteiro
252,1
368,3
450,6
383,8
Pedaços
377,3
471,7
425,6
355,1
Total
629,4
840
875,8
738,9
US$/T
1.477
1.477
1.355
1.206
Em 1998, o valor médio da carne exportada em pedaços foi cerca de 36,65% superior ao do frango inteiro. Assim, o preço médio de exportação do frango em pedaços foi US$ 1436,00 a tonelada, enquanto que do frango inteiro foi de US$ 1051,00 a tonelada. Essa relação contudo não é constante. Em 1995, por exemplo, o preço de frango em partes foi 65% superior ao do frango inteiro. Em 1996 foi 37% e em 1997 foi 27%.
Do total de frango exportado em pedaços em 1998 (US$ 355,1 milhões) cerca de 84,1% foram destinados aos países desenvolvidos da Ásia e da Europa. Do total de frango inteiro (US$ 383,8 milhões), perto de 83,7% (US$ 320,9 milhões) destinaram-se à Rússia e ao países em desenvolvimento da América Latina e do Oriente Médio.
O valor médio das exportações brasileiras mostraram-se bastante estáveis até 1994. O salto ocorreu em 1995, quando subiram quase 20%. Essa elevação, que perdurou em 1996, foi conseqüência principalmente da elevação nos preços das commodities em geral que ocorreram no período, embora entre 1994 e 1995 a participação do frango em pedaços tenha crescido de 51% para 60%, mantendo-se até 1996.
A queda das cotações a partir de 1997 é a conjugação da queda na participação do frango em cortes de 60% para 48% e da redução nos preços das commodities, em virtude principalmente da crise asiática.
5. Perspectivas das Exportações Avícolas
Para se avaliar as perspectivas das exportações avícolas brasileiras é necessário analisar a estrutura do consumo mundial, constituída como foi visto do bloco dos países desenvolvidos e do bloco de países em desenvolvimento, e verificar o comportamento dos diversos fatores que afetam o consumo em cada bloco.
Nos países em desenvolvimento o fator determinante para crescimento do consumo percapita foi o efeito preço. A queda dos preços nesses países foi causada por ganhos de produtividade e redução nos preços das matérias primas verificados nas últimas décadas e pela redução de algumas políticas protecionistas após os acordos da OMC, principalmente na União Européia (UE). Em futuro próximo é pouco provável que ainda ocorra expansão do consumo percapita de carne de frango na atual estrutura de consumo que resultou dos acordos da OMC. Reduções significativas nos preços na EU (e conseqüente aumento no consumo), aparentemente só deverão ocorrer em função de algum choque competitivo, por meio da eliminação de diversas formas de apoio doméstico que ainda existem ou por uma liberação maior das importações.
No Japão também ainda existe espaço para aumento do consumo via redução de preços, pois o consumo percapita do Japão é apenas 12 kg (54% da brasileira) embora em formato um pouco diferente da UE, porque o Japão já importa carne de frango em alta escala, principalmente dos EUA. A entrada do produto ainda está sujeita a várias regras restritivas que juntas com algumas medidas de apoio à produção interna impedem reduções maiores nos preços e, portanto, aumentos mais significativos no consumo per capita.
De uma maneira geral, o acesso ao mercado dos países desenvolvidos (e portanto a expansão das exportações) vai depender crucialmente da eliminação, principalmente na UE, das fortes barreiras que ainda existem à entrada do produto brasileiro e na redução ou mesmo eliminação dos subsídios concedidos à produção doméstica.
Nos EUA, em virtude de diversas políticas de apoio interno, os exportadores estão vendendo a carne de frango com o preço médio de US$ 600,00 a tonelada, que como foi visto está bem abaixo do preço médio brasileiro ( US$ 1200,00) A vantagem do Brasil é a qualidade do frango, bem superior à americana, decorrendo daí a preferência de alguns mercados consumidores pelo frango brasileiro.
No curto prazo, o recente problema com dioxina pode levar a UE a aumentar suas importações e com isso favorecer a posição brasileira.
Nos países em desenvolvimento o fator crucial é o desempenho das economias, juntamente com maior agressividade na política de vendas.
A expectativa é que a economia mundial cresça, puxada principalmente pela economia americana e pela recuperação dos tigres asiáticos. Com isso, deverá haver elevação nas importações da região asiática devido também à perspectiva de maior participação da China (que até o momento só foi atingida marginalmente pela crise) na importação de alimentos, inclusive carne de frango. A grande questão sobre a China é estimar o volume, pois trata-se de um país de comportamento muito imprevisível, principalmente no comércio exterior, que é totalmente controlado pelo estado. Dessa forma, sem desprezar a importância dos mecanismos comerciais ortodoxos de penetração e expansão de mercados, na China as negociações bilaterais (governo a governo) continuam cruciais.
Outro país que tem aumentado consideravelmente as importações é a Rússia, mas devido à fase crítica que atravessa, é um mercado muito sensível e arriscado. Todavia os EUA estão exportando, via várias modalidades de financiamentos, grande quantidade de alimentos, incluindo carne de frango. O Brasil poderia retomar a estratégia de fazer trocas diretas( "barter trading").
Mais recentemente, o Irã reiniciou as importações de frango brasileiro e o Canadá suspendeu as barreiras sanitárias contra esse produto, estabelecendo a quota inicial de 20.000 toneladas de peito de frango, cujo preço médio é de US$ 3.000,00 a tonelada.
No longo prazo, a expansão em larga escala vai depender da parceria entre governo e iniciativa privada no sentido de montar uma política agressiva de exportação no setor, da redução do custo Brasil (principalmente na área de infra-estrutura para transporte de grãos) e dos resultados das próximas negociações da OMC.
6. Os gargalos da atividade
A avicultura brasileira está sujeita a desequilíbrio que podem obstar seu desenvolvimento produtivo. Os motivos desses desequilíbrios se encontram nos seguintes pontos:
· Incidência tributária na cadeia produtiva do frango;
· Dependência de material genético importado;
· Carências no sistema de controle sanitário.
6.1 Incidência tributária na cadeia produtiva do frango
Carga tributária incidente sobre o consumo da carne de frango no Brasil permite a constatação de que, aproximadamente um terço do valor pago pelo quilo de frango pelos consumidores, corresponde a impostos agregados ao longo de toda a cadeia produtiva. Não obstante a alta incidência tributária sobre a produção, a comercialização, sendo repassado o imposto ao longo da cadeia, penalizando, em última instância, o consumidor final, há uma parte da carga tributária que incidi sobre toda a economia. Tal incidência se verifica na medida em que, ao elevar o preço final do frango, os impostos reduzem a renda real do consumidor, implicando, por seu turno, redução da demanda final afetando o setor produtivo.
Os mais importantes impostos nesse elo da cadeia produtiva, respectivamente, são: o ICMS, os impostos incidentes sobre a ração, as contribuições sociais (PIS/CONFINS), os impostos sobre a folha de pagamento da empresa e os impostos transferidos nos pintainhos.
Os impostos embutidos na produção de ave viva correspondem a aproximadamente 21% da carga tributária incidente sobre o valor final do frango para o consumidor. Se acrescentar a esse elo da cadeia, os impostos incidentes sobre a agroindústria, o percentual da carga tributária incidente sobre toda a cadeia chega a mais de 57%. Observa-se ainda que, o valor agregado até a fase agroindústria representa algo em torno de 63% do valor final do frango, indicando assim a menor proporção dos tributos no valor agregado, nesses dois elos, do que nos demais. Está na fase do atacado e do varejo a maior proporção de impostos no valor agregado. Há que se por em relevo o fato de o produtor ser o que menos paga imposto na cadeia. Isto advém de sua baixa participação na formação do preço final, da mão-de-obra ser familiar. O fato de pagar menos imposto relativamente não implica um a melhor situação para o produtor rural, posto o malogro de ser o único elo da cadeia produtiva a não conseguir repassar os impostos para os preços, face a estrutura do mercado com que se defronta.
6.2 Dependência de material genético importado
O procedimento é histórico e decorre do fato de que em outros países empresas privadas desenvolvem, desde a primeira metade do século passado, trabalhos de melhoramento genético que redundaram na obtenção de novas linhagens – hídricos – cuja a produtividade resulta ser superior a das linhas puras.
Várias empresas brasileiras também desenvolveram trabalhos nesse sentido. Porém, as dificuldades em conquistar um mercado amplo, bem como a concorrência de linhagens já melhoradas impediram – sobretudo por questões econômicas - a continuidade dos trabalhos do gênero.
Em decorrência, a atual produção brasileira de frangos e ovos se encontra quase totalmente baseada nas linhagens importadas. Na área de frangos essa dependência ultrapassa os 70%.
Também a submissão do setor a outros países é quase inteiramente descartável. Afinal, o Brasil é um dos grandes consumidores de material genético melhorado. Portanto, é um mercado respeitado e disputado. Além disso, a disponibilidade – aqui – de linhagens cujo desenvolvimento é reconhecido mundialmente, coloca o Brasil em pé de igualdade com a melhores aviculturas do mundo.
Essa importação de produtos genéticos também pode oferecer problemas. Um deles é representado pelo risco de ocorrência de um surto de doenças em um dos países fornecedores, caso em que o Brasil se veria parcialmente privado do abastecimento rotineiro indispensável ao atendimento de sua demanda interna e externa. O outro problema é representado pelo risco de introdução no país de doenças aviárias exógenas.
6.3 Carências no sistema de controle sanitário
O segundo problema – introdução de doenças exógenas no país – é bem mais abrangente, por sinal, não se limita a doenças externas, mas também às que já se encontram presentes no país. Em decorrência, cresce as exigências de controle sanitário dos animais criados para a produção de alimentos, seja com o objetivo de proteger os rebanhos nativos contra agentes exóticos de doença ou peça segurança do consumidor, contra a presença de fator tóxico ou agente que possa vir a afetar a saúde humana.
Atento à sua parte, o Governo Federal adotou, há poucos anos, o PNSA – Programa Nacional de Sanidade Avícola, que vem sendo implantado paulatinamente e que propõe uma série de ações com o objetivo de erradicar ou controlar alguma das enfermidades avícolas registradas no país ( Newcastle, micoplasmoses, salmoneloses, etc) e, ainda, de impedir que doenças exógenas sejam introduzidas no país.
6.4 Identificação do problema
Há necessidade premente de estabelecer capacidade e conhecimento para resguardar a produção avícola nacional contra a entrada e disseminação de agentes de doenças que possam a vir a comprometer o comércio interno e as exportações de produtos avícolas.
Qualquer falha no sistema que possibilite a passagem de problemas sanitários pode ser utilizada, por países importadores ou concorrentes, na solicitação de suspensão do Brasil como exportador de carnes frescas de aves. Fatos como a gripe do frango em Hong-Kong e México devem servir de exemplo para o Brasil.
7. Conclusão
A evolução da cadeia produtiva de frango teve como ponto central o significativo encurtamento do ciclo de produção e maior eficiência produtiva. Nota-se que a cadeia produtiva do frango apresenta alta capacidade de elevar a produtividade e reduzir custos ao longo de todos os elos da cadeia.
O alto nível tecnológico alcançado pela cadeia produtiva da avicultura de corte, colocou a atividade em posição privilegiada relacionada a outras atividades pecuárias desenvolvidas no Brasil.
O consumo per capita de carne de frango atualmente é cerca de 1300% superior ao que prevalecia no início da década de 70.
8. BIBLIOGRAFIA
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Ruy
de Araújo Caldas et al. Brasília: CNPq, 1998. 275 p.
2. http://www.agricultura.com.br/spa/rpa1tri98/mudança.doc
3. www.zemoleza.com.br/trabalho.asp?cod=3180
4. www.abcs.com.br/informe.htm
5. www.porkworld.com.br/destaques_abril2002/ destaques_avesui02.html
6. www.pr.gov.br/seab/aspectos/avicul.html
7. www.embrapa.br/novidade/publica/intro131.htm
8. www.folhadoestado.com.br/agropecuaria.asp
9. www.pr.gov.br/seab/deral/rev0606.rtf
10. www.aviculturaindustrial.com.br/home.asp
11. www.cnpsa.embrapa.br/publicacoes/sdoc/sdoc.html
12. www.agricultura.gov.br/spa/rpa1tri98/mudancas.doc
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